Artista: Palavrantiga
Ano: 2010
Gravadora: Independente / CanZion Brasil
Nota: 9 de 10
O Palavrantiga é uma das bandas brasileiras independentes de maior notoriedade nos últimos anos, mas a história desse grupo é mais antiga do que algumas pessoas conhecem. Os integrantes do conjunto já trabalharam com a talentosa Heloisa Rosa, ao qual gravaram dois álbuns: Liberta-me (2004) e Andando na Luz (2006). Até o vocalista Marcos Almeida também atuava como tecladista e vocal de apoio da conhecida e respeitada intérprete do rock cristão brasileiro.
Em 2008 foi lançado o primeiro EP, com
o nome homônimo da banda, que foi lançado em SMD.
O primeiro álbum do grupo, Esperar é Caminhar foi gravado em 2009
e lançado em 2010. Produzido por Jordan Macedo, o disco une sonoridades
criativas com letras que vão a uma direção contrária aos velhos clichês de
música cristã contemporânea que estamos acostumados a ouvir. É sem dúvida, um
dos melhores lançamentos desse ano e talvez da década no segmento.
“Amor
que nos faz um”
abre o trabalho muito bem, e já se percebe a excelente exploração do pop rock e
do rock alternativo. Um vocal melódico na introdução e os metais no final. A
letra, reflexiva questiona as preocupações diárias do ser humano.
As próximas duas canções são
encontradas no primeiro EP do grupo. “Feito
de Barro”, com as características do rock britânico, já percebidas desde a
época “Heloisa Rosa”. “Eu Olhei o Meu
Dia” é uma bela combinação de poesia e arranjos bem detalhados. A junção do
violão em conjunto com teclado e a bateria traz um clima calmo.
“Seguro
Vou”,
uma das inéditas usa a proteção de Deus como principal tema. A condução do
teclado se destaca na canção.
A quinta faixa, “Pensei” esteve no primeiro EP e também recebeu uma versão em
videoclipe. A grandiosidade de Deus e nossa dependência por Ele é o tema da
canção, que por sinal é uma das melhores da obra. Destaque para as conduções do
baixo.
“Vem
me Socorrer”
é conduzida basicamente por um violão folk. Destaque para a interpretação de
Marcos Almeida. Uma excelente combinação de metais com guitarras ocorre em “Hoje tem Guerra”, que também possui uma
excelente letra. “Dissolve o tempo, passa o que é temporal, eu abraço o amor, eu
procuro O Eterno que longe não está”.
“Imagino” e “Tudo o que
vi não é tudo o que preciso aprender” são, sem dúvida, as canções mais
verticais do disco, além das melodias relativamente parecidas. A diferença está
no uso de cordas na segunda canção, que enfatiza o clima intimista proposto.
A faixa-título, “Esperar é
Caminhar” é outra excelente poesia sobre nossas expectativas que muitas
vezes não estão ligadas a Deus. No final, há a participação de Thalles Roberto,
que na época estava gravando o disco Na Sala do Pai.
É notável o uso de sintetizadores em “Palavrantiga”, que possui uma sonoridade envolvente frisando as
formas que Deus se revela a cada dia e suas qualidades. Excelente faixa.
De longe, “Rookmaaker” é a
melhor faixa do disco, de todos os ângulos. Letra criativa e inteligente,
arranjos agradáveis e bem executados. Tal canção necessita ser executada em
todas as rádios do nosso país! É uma verdadeira demonstração de conhecimento histórico
por conta de Marcos Almeida, fazendo uma análise do que é ouvido, lido,
escutado e feito pelas pessoas através de alguns grandes nomes do passado, como
Hans Rookmaaker
e Jean Paul Satre. “Eu fico com a
escola de Rembrandt, você no dadaísmo de Berlim. A
cidade está cheia de tinta, na cidade dos homens tem gente que consegue ver,
mas os outros estão cegos pra Ti.” Uma das
melhores canções cristãs atuais que escutei nos últimos anos e só ouvindo para
perceber a preciosidade da obra.
Pra terminar com chave de ouro é reproduzida "Casa", já regravada por Lucas Souza e a dupla Christian & Ralf.
Realmente, é um disco que esbanja qualidade, trazendo letras criativas,
que vem em uma proposta totalmente diferente da grande maioria de canções
cristãs sendo escritas, gravadas e lançadas atualmente. Se alguém pensava que
não teríamos obras musicais brasileiras de destaque e qualidade em nossa
década, ao ouvir Esperar e Caminhar sem dúvida muda de ideia. Um excelente
disco para ouvir e refletir. De 0 a 10, 9 para o álbum.
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